INTERVIEW: Papangu

Da esquerda pra direita: Hector Ruslan, Raí Accioly, Nichollas Jaques & Marco Mayer

[ENGLISH BELOW!]

@nilovz

Diretamente da capital paraibana, o Papangu é um quarteto que mescla sludge metal, zeuhl, influências regionais e um bocado de rock progressivo. Seu disco de estreia, Holoceno, saiu no último mês de junho após um período de sete anos de trabalho e, num raro fenômeno boca a boca, já se espalhou pelo mundo todo. Conversei com o grupo sobre essa repercussão, influências, participações especiais no disco e mais. Desce o navegador aí!

Algo que chama atenção é o fato da banda ter nome de uma lenda nordestina, o disco de uma época geológica e o conceito ser inspirado pela literatura nordestina e o cangaço (um no outro, talvez?) – temos aí o histórico, o geológico, o folclórico. Como diriam que isso tudo converge?

Marco: A história e o som que a gente representou nesse disco são inseparáveis da terra nordestina, da estética do imaginário e do folclore local e do próprio conceito do cangaço—de violência, de resistência, da violência que resiste à passagem do tempo e da resistência à violência histórica. Dá pra dizer que a tragédia que a gente conta é, também, alegoria política: o protagonista cangaceiro cava a própria cova através da violência que comete, e quando a hora do arrependimento bate, já é tarde demais. Holoceno busca fazer pontes entre esse nosso conto de realismo fantástico e outras tragédias do tempo atual, como a destruição climática e a crise democrática no Brasil sob o governo Bolsonaro.

A eleição dele foi ponto pivotal para uma mudança na narrativa do disco, considerando que este começou a ser elaborado em 2014, ou o material de até então já apontava pra essa guinada?

Marco: A história do disco já tinha o escopo antifascista talhado desde o início; o resultado da eleição veio como catalisador, e fez com que algumas letras e elementos musicais fossem ajustados. Terra Arrasada, a mais antiga música do disco (composta em 2013), nasceu com a temática da má distribuição de terra agrária. Sua segunda metade, mais recente e concluída em 2019, aponta diretamente para o suplício de Margarida Maria Alves (líder camponesa executada em 1983 por um clã político paraibano—que, por sinal, ainda está em atividade no legislativo estadual e federal) e para os descasos de impunidade e desigualdade exacerbados pela espiral de desgraça em 2018.

Nessa confluência: um amigo sugeriu que vocês fizeram “o Bacurau do metal”, se isso faz sentido…

Rai: Faz sentido sim. A confluência, além de temática, foi temporal, pois entramos no estúdio para gravar o disco em julho de 2019 e, coincidentemente, Bacurau foi lançado em agosto do mesmo ano. Durante a gravação de “Terra Arrasada” e “Lobisomem”, nós brincávamos falando que, se o disco tivesse saído antes, uma delas caberia perfeitamente na trilha sonora do filme.

Podemos dizer porém que, diferente do filme, o Papangu transmite uma mensagem de carga política de modo mais poético, algo até meio raro em letras desse viés atualmente – que são mais diretas e diria que até baseada em “palavras-chave”. O que pensam disso? Houve alguma inspiração além da literatura nesse aspecto?

Hector: O fundamental é que seja algo honesto e coerente. Algo que se comunique bem, esteticamente, com o formato da obra. No caso de Papangu, pensamos que faz sentido amalgamar as mensagens políticas com o conceito do disco, ou seja, a história que Holoceno conta, além de sentimentos e experiências vividas, imaginadas, lidas…

Para além da literatura modernista do Nordeste, que se faz presente em várias canções do disco, a inspiração por trás de algumas das letras advém do fato de que em meio a diversas tragédias ambientais, econômicas e políticas, que são eventos cotidianos na vida do camponês nordestino, a postura diante de tais desafios costuma ter tom estóico e austero. Por mais abuso, exploração ou sofrimento que se imponha sobre esse personagem (real e fictício), é difícil imaginá-lo gritando palavras de ordem.

Não quer dizer que não haja espaço no rock ou no metal modernos para letras que trazem objeções, denunciam dores ou abusos de maneira mais direta, desde que sejam feitas com honestidade e que dialoguem bem com a música. Apesar de que Papangu e algumas das minhas bandas favoritas apresentarem um tipo de música mais experimental e complexo, eu pessoalmente sou fã de músicas que, dentro do rock, são tidas por bastante simples, como punk e hardcore.

O que Joe Strummer escreveu na letra de “Know Your Rights”, através de slogans e palavras de ordem, casa perfeitamente com o riff do verso da música, que é basicamente a repetição de um acorde, como se a guitarra também protestasse. O desafio consiste em encontrar a maneira mais honesta de combinar a ideia e a forma. 

Outra confluência notável é a de estilos musicais, e o legal é que a banda os identifica – sem cair no clichê do “não vamos nos colocar numa caixinha”. Existiu algum ponto de partida em comum, ou essa fusão foi um encontro natural das bagagens de cada integrante?

Nichollas: Apesar de que nossa gênese teve raízes no stoner/doom, o Papangu só é o que é pois é um amálgama não só de tudo que nos representa em conjunto, mas também nos âmagos individuais. Em outras palavras: como grupo, tivemos como influências os pantanosos riffs da fase inicial do Mastodon e o regionalismo do Mestre Ambrósio. Como indivíduos, Marco nos trouxe os riffs quebrados com suas influências do Magma e King Crimson; Raí, como um bom fã de thrash metal, encabeçou todos os momentos dignos de um mosh pit; eu, um amante do post-black metal, trouxe a mistura de brutalidade e ambiência das faixas; e Hector, um ávido fã do Black Sabbath e Baroness, criou as belas harmonias e solos presentes em Holoceno. É por essa e muitas razões que, ao longo do disco, é possível sentir um pedaço de cada um de nós.

Até curioso o Mastodon ser citado como influência comum, já que ao menos para mim a produção do disco aponta para um lado mais atmosférico do gênero, de bandas anteriores a eles até…

Rai: King Crimson, Rush, Camel… esses gigantes fazem parte da nossa identidade, evidentemente. Mencionamos Mastodon como uma grande influência pois, embora cada um de nós tenha um background diverso, ela é nosso ponto de convergência: do riff lamacento do verso de São Francisco às melodias e corais atmosféricos da faixa-título, o DNA do que Mastodon fez em discos como Crack the Skye e Leviathan se faz presente.

O que mais chama atenção é a menção ao zeuhl, que inclusive me parece inédito em território nacional (mesmo com nossa tradição prog). Sempre interpretei a fluidez de linguagem no estilo como central, dado que a música abarcava ainda mais gêneros que o rock progressivo de então e o fato do Magma ter um idioma próprio – que parece ter sido herdado pelas bandas que o seguiram, algo como se a fluidez fosse tamanha a ponto da linguagem verbal como artifício lírico ser totalmente repaginada, por vezes abandonada mesmo. Houve influência/intenção nesse sentido?

Marco: É, acho que somos o primeiro exemplo de zeuhl no Brasil, ou pelo menos a primeira banda brasileira que veste a influência de Magma sem pudores. Acontece que, na tradição de Magma e dos seguidores, a voz tá lá como outro instrumento: o significado pouco ou nada importa, e o que vale é o efeito espiritual do canto, o de mostrar que a música respira. Tanto o coral bombástico de Carl Orff e do balé Les Noces de Stravinsky quanto o canto-e-resposta da música negra americana—do gospel ao repertório Tamla-Motown—guiaram esse uso da voz no zeuhl e, de certa forma, também deram alguma inspiração ao que fizemos em Holoceno, mas nossos pontos de partida e de chegada são outros: o grito de guerra do metal e o canto meio ladainha do nordeste se uniram quando compusemos e arranjamos nossas músicas.

Alguns ouvintes gringos que nada entendem de português mencionaram que a sensação de não entender nada do que está sendo cantado consegue provocar algo do efeito de catarse do ininteligível que se alcança ao ouvir Magma ou Koenjihyakkei, mas aí só se percebe metade da estória. Enquanto disco, e disco conceitual, Holoceno não funcionaria se fosse instrumental, não seria bom se as letras carecessem de sentido, ou tampouco prestaria se as aliterações, trocadilhos e o restante das figuras de linguagem fossem descartados.

Falando em história, de que filme é o sample que abre o disco mesmo?

Hector: Vem do filme Vidas Secas (1963), clássico do período do Cinema Novo, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, que adapta o livro de Graciliano Ramos para as telas. O sample é retirado de uma cena logo no comecinho do filme, em que a mãe da família de retirantes avista um grupo de urubus sobrevoando algo que se presume ser uma carcaça e fala “lá garanto que tem pouso”.

Antes de irmos ao estúdio, sugeri que “Ave-Bala”, a canção que abre o disco, fosse precedida por um sample, gerando expectativa no ouvinte e iniciando a jornada de Holoceno com um tom de mistério e a busca urgente pela sobrevivência. A fala da personagem traz muito bem tudo isso e coloca o ouvinte em uma posição de antecipação para o riff de baixo que entra rasgando tudo.

A expressão Ave-Bala vem do poema “Morte e Vida Severina” de João Cabral de Melo Neto, que também tem como tema o retirante que foge da seca e da miséria, trazendo em determinado momento essa ideia metafórica de um pássaro-projétil, uma ave-bala, um animal-violência.

Me pareceu adequado amalgamar as duas obras como paralelos e pontos de partida para aquilo que é narrado em Holoceno. A representação do urubu como ave-bala do sertão nordestino ficou impregnada no meu cérebro.

Sobre estúdios, o release menciona um intervalo de sete anos entre composição e finalização. Poderiam dar detalhes sobre o porquê desse tempo?

Marco: O que mais demorou em Holoceno foi montar a série de sete músicas coesas com composições bem podadas e polidas, no sentido de composição, arranjo e pré-produção. Para ser bem honesto, faltou o dinheiro para investir o tempo necessário em estúdios para chegar nos timbres perfeitos: foi preciso uma mistura de improviso, sorte, e muitas concessões para aceitar que os timbres de guitarra e de baixo seriam aqueles que conseguimos nos poucos dias de gravação. Fora o fator financeiro, a falta de tempo—estávamos todos na fase exigente da faculdade e começando a vida profissional—e a falta de experiência—seja em produção musical ou no próprio aprimoramento de nossas habilidades nos instrumentos—alongaram o processo de produção do disco. Certamente, com a bagagem que agora temos, o segundo disco demorará muito menos para ficar pronto.

Nesse cenário, como se deu o envolvimento do pessoal gringo?

Hector: A primeira participação gringa foi do baterista Torstein Lofthus. Nós esbarramos em dois grandes obstáculos que deram uma freada na gravação da bateria: pandemia e compromissos acadêmicos de Nichollas. Para contornar o problema, Marco entrou em contato com Torstein por E-mail, posto que haviam se conhecido em uma série de shows ao vivo da banda Elephant9, com quem Torstein toca. Os shows foram em Oslo, na Noruega, e acabaram rendendo um par de discos ao vivo chamados de “Psychedelic Backfire”. Torstein gentilmente topou participar do projeto, e gravou suas linhas, baseado no que já havíamos gravado no Brasil, lá na Noruega, em um estúdio que é gerido por Jørgen Smådal, em Oslo, chamado Studio Paradiso. Assim sendo, aproveitamos o ensejo para colocar a mixagem nas mãos de Jørgen, já que aqui no Brasil tivemos graves problemas com o processo de mixagem. Temos aí a 2º participação gringa.

Conversando entre nós, sentimos a necessidade de dar uma apimentada em certas partes de determinadas músicas, e a ideia da inclusão de um saxofone foi bem recepcionada por todos. Marco, então, entrou em contato por e-mail com o também norueguês Benjamin Mekki Widerøe, saxofonista da banda Seven Impale, que tem um disco maravilhoso do qual eu particularmente sou grande fã, o City of the Sun. Benjamin também topou participar do disco, gravou as suas faixas de sax lá na Noruega e nos enviou.

Por fim, o envio do material para o americano James Plotkin, que cuidou da masterização do disco, se deu por uma aproximação estética mesmo, já que buscávamos profissionais que tivessem bagagem para tratar um som como o nosso. Plotkin trabalhou com bandas como Sunn O))), ISIS, Pelican, Earth, Electric Wizard, e isso nos passou uma grande segurança.

Ainda sobre estrangeiros: talvez seja a minha bolha, mas até recentemente (vamos dizer até agosto) eu julgava que a maior parcela da atenção ao Papangu vinha de fora do Brasil. Confere ou é só impressão? Tem sempre esse estigma que as bandas daqui precisam primeiro serem aprovadas lá fora pro povo valorizar, e até remix do Toby Driver rolou aí…

Hector: Não sei até que ponto dá para dizer que se trata de uma necessidade de validação do pessoal de fora, para que só então o brasileiro aprecie, ou se seria por maior proximidade e conexão do nosso som com algumas cenas gringas já um pouco mais estabelecidas, ainda que Papangu não faça parte de uma cena específica. Contudo, quanto ao fato de que a maior parcela de atenção voltada para nossa banda vem de fora do Brasil, também conseguimos perceber isso. O fato aqui discutido é constatável, inclusive, através dos dados que coletamos das plataformas virtuais que distribuem a nossa música. No geral, a Europa e Estados Unidos escutam mais Papangu do que o Brasil. Tivemos ouvintes no Japão também, e isso foi bem legal.

Minha opinião pessoal é de que algumas pessoas de alguns desses locais têm maior facilidade para sacar Papangu pelo fato de que já teriam referências em áreas como o prog, o avant garde, o doom metal, o sludge metal. Aqui no Brasil, pelo menos no que diz respeito ao nicho do metal, acho que as maiores referências continuam sendo Sepultura, Angra, Krisiun, etc. São bandas bem grandes e que puxam cenas ao redor de cada uma: do thrash metal, do power metal, do death metal, e por aí vai. Então eu particularmente acho que o metaleiro brasileiro gravita ao redor dessas referências.

Outra curiosidade relacionada ao que tendo dito é a questão da fuga do nicho ou da bolha do metal. Nós constatamos que aqui no Brasil muitas das pessoas que mais têm curtido e propagado Papangu não são pessoas que vivem e respiram o metal 24h/dia. Temos tido um bom retorno de pessoas voltadas para todo tipo de som, do pop ao indie, e nós achamos isso o máximo.

Por fim, a participação de Toby Driver é um ponto que serve para amarrar tudo isso que tenho comentado na resposta à presente pergunta. maudlin of the Well e Kayo Dot têm sido grandes fontes de inspiração para a nossa banda. Nós adoramos a forma como Driver conseguiu passear por diferentes gêneros musicais e influências ao longo de sua discografia. Seus discos têm sido referência para aqueles que se debruçam sobre rock/metal progressivo e avant garde, mas não só. Vale a pena destacar também um dos projetos mais recentes dele, o Alora Crucible, que sequer está sob o domínio do que se considera como rock.

A participação de Toby Driver em Holoceno se deu já no fim da ciclo de gravação, através de um pedido feito para ele através de Marco, que deve ser o maior fã de maudlin of the Well e Kayo Dot do Brasil. Toby gentilmente aceitou o nosso pedido de remixar uma canção do disco, que acabou se tornando a faixa “Açougue das Almas”, acessível exclusivamente através do Bandcamp de Papangu.

Quais os planos da banda para o futuro próximo?

Marco: Assinamos contrato com dois selos britânicos: um irá lançar Holoceno em CD e em vinil, e o outro em fita K7. Para minimizar o impacto ambiental, o CD será em digipak, evitando o plástico das jewel cases, e o LP usará material reciclado. Fora isso, estamos vislumbrando a possibilidade de fazer shows em 2022 no Brasil e, se houver convite, organizar uma turnê na Europa. A recepção tem sido muito boa lá e nos EUA, onde temos mais ouvintes do que no Brasil. Fora isso, estamos compondo material para um segundo disco conceitual.

Algo mais que vocês gostariam de adicionar?

Marco: Estamos muito felizes com a repercussão, especialmente porque nos pegou de surpresa! Mesmo sem apoio do cenário local e sem verba para promover Holoceno, o boca-a-boca fez muito efeito, e é meio surreal ver que tem gente do outro lado do mundo curtindo um negócio maluco cantado em português e feito de forma inteiramente independente, sem mãos calejadas na produção. Há bastante gás para continuar fazendo música e temos certeza de que o próximo disco tirará bom proveito da experiência que adquirimos no processo.

Para encerrar, só gostaríamos de deixar um agradecimento póstumo a Anselmo Oliveira, baixista da Disacusia (excelente banda paraibana de crust/grind) e ex-colaborador do Pogo Pub, extinto ponto do circuito indie do centro histórico de João Pessoa. O Pogo foi o lugar que nos acolheu nos nossos primeiros shows e Anselmo nos deu conselhos e muito incentivo para seguir adiante com Papangu. Holoceno é dedicado a sua memória.

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Something that stands out is the fact that the band is named after a northeastern legend, the album after a geological era and the concept is inspired by northeastern literature and cangaço (one within the other, perhaps?) – historical, the geological, the folkloric. How would you argue it all converges?

Marco: The story and sound we present on the record are inseparable from the [brazilian] northeast land, the aesthetics of the imaginary, local folklore and the very concept of cangaço – violence, resistance, violence that resists the passage of time and resistance to historical violence. We could also argue it is a political allegory: the cangaceiro protagonist digs his own grave through his violence and, when regret strikes, it’s already too late. Holoceno aims to link tales of fantastic realism and present day catastrophes such as environmental destruction and the brazilian democratic crisis under Bolsonaro’s government.

Since the album genesis dates before brazilian presidential election of 2018, was such event crucial for a change of narrative or the material already pointed to such direction back then?

Marco: The album concept had the antifascist scope from the beginning, his election came as a catalyst and we adjusted some lyrics and musical elements. “Terra Arrasada”, the oldest song on the LP (written in 2013), began with the theme of unequal distribution of agricultural land. Its second half, finished in 2019, leads directly to the ordeal of Margarida Maria Alves (a peasant leader executed by a political clan of Paraíba in 1983 which, by the way, is still actively present in state and federal legislatures), the impunity and inequality exacerbated by the spiral of disgrace of 2018.

Speaking of confluence, a friend suggested that you released “the metal version of Bacurau“, if that makes sense…

Rai: Yeah, it does. A theme and time confluence, as we entered the studio in july 2019 and the movie was released the following month. When recording “Terra Arrasada” and “Lobisomem”, we joked that they would perfectly fit into Bacurau‘s soundtrack had the album been released before.

We could argue that, different from the film, Papangu conveys a politically charged message in a more poetic way, which is even a bit rare in lyrics of such bias these days – usually more straightforward and based in keywords. What’s your opinion about it? Any inspiration beside literature on such aspect?

Hector: The main thing is to be honest and coherent. Something that communicates well, aesthetically, with the body of work. In addition to the modernist literature of the Northeast, the inspiration behind some of the lyrics comes from the fact that, in the midst of various environmental, economic and political tragedies, which are everyday events in the northeastern peasant’s life, the posture in face of such challenges tends to have a stoic and austere tone. No matter how much abuse, exploitation or suffering is imposed on this character (real and fictional), it is difficult to imagine him shouting slogans.

But I don’t mean that there’s no space in modern rock and metal for more direct lyrics. The way Joe Strummer wrote the lyrics to “Know Your Rights”, with the slogans, matches perfectly with the verse riff, as if the guitar was protesting through the repetition of a chord as well. The challenge is to find the most honest way to combine idea and form.

Another notable converge is the musical one, as you don’t go “our music doesn’t fit in any label” and proplery name the various influences. Was there any common ground or such fusion of genres was the natural meeting of each member’s history?

Nichollas: Our genesis had roots in stoner/doom, but Papangu is only what it is because it is an amalgamation not only of everything that represents us together, but also in the individual cores. As a group, we were influenced by the sludgy riffs of early Mastodon and the regionalism of Mestre Ambrósio. As individuals, Marco brought the twisted riffs through Magma and King Crimson. Raí, as a thrash fan, commanded every worthy of a mosh pit. Me, a post-black metal lover, delivered the mix of brutality and ambience. And Hector, an avid Black Sabbath and Baroness enthusiast, created the beautiful harmonies and solos. You can feel a bit of each one of us throughout the album.

Curious to see Mastodon as the converging point, because the album’s production goes to the more atmospheric side of the genre, of bands prior to them, at least for me.

Rai: King Crimson, Rush, Camel… those legends are part of our identity, of course. But Mastodon is where it all comes across: from the heavy verse riff of “São Francisco” to the melodies and the atmospheric corals in the title track, that’s the DNA of albums such as Crack the Sky and Leviathan.

What stands out the most is the mention of zeuhl, which even seems unprecedented in national territory (even with our prog tradition). I always interpreted the fluidity of language in the style as central, given that the music encompassed even more genres than the progressive rock of that time and the fact that Magma created its own language – which seems to have been inherited by the bands that followed it, something as if the fluidity were so great that the verbal language as a lyrical device was totally revamped, sometimes even abandoned. Was there an influence/intention in this regard?

Marco: Yeah, I guess we are Brazil’s first zeuhl band, or at least the first one to show the Magma influence so verbally. The tradition of Magma and followers is that the voice is a mere instrument: meaning barely matters or not at all, what counts is the spiritual effect of the singing, showing how the music breathes. Both the bombastic choir of Carl Orff and Stravinsky’s Les Noces ballet and the call and response of american black music, from gospel to the Tamla-Motown songbook, guided such voice approach on zeuhl and what we did on Holoceno, at some level. But our starting and ending points are different: metal’s battle cry and the brazilian northeast litany singing united when we composed and arranged our songs.

Some foreign listeners who don’t speak portuguese mentioned that the sensation of not understanding a single word can cause sort of a catharsis similar to listening to Magma or Koenjihyakkei, but then you just get half of the story. As a concept album, Holoceno wouldn’t work if it was instrumental, if the lyrics were senseless or the alliterations, puns and other figures of speech were discarded.

By the way, where does the sample that starts the album comes from?

Hector: It’s from Barren Lives, a Cinema Novo classic directed by Nelson Pereira do Santos and adaptation of Graciliano Ramos’ book of the same name. The sample comes from a scene on the very beginning, when the mother of a family of migrants sees vultures flying over a presumed carcass and says “lá garanto que tem pouso” (“I guarantee there’s shelter there”).

Before we went to the studio, I suggested that a sample preceded the first song, “Ave-Bala”, to raise the listener’s expectations and begin Holoceno’s journey with a tone of mystery and an urgent search for survival. Such quote does that very well, and anticipates the bass riff that comes crushing everything. The expression ave-bala (bullet bird) comes from João Cabral de Melo Neto’s poem “Morte e Vida Severina”, also centered around a migrant escaping drought and misery, that brings the metaphorical idea of a projectile bird, a violence-animal. The representation of a vulture as a bullet bird of the brazilian northeast backwoods was impregnated on my brain, so it seemed adequate to fuse those two works.

The Bandcamp release mentions a period of seven years between writing and finishing Holoceno. Can you give more detail on that?

Marco: What took most time was putting together a series of seven cohesive songs with polished writing, regarding to composition, arrangement and pre-production. To be quite honest, we lacked money to invest in the necessary studio time to reach the perfect tones: it took a mix of improvising, luck and a lot of concessions to accept the guitar and bass tones would be those we could get within few days of recording.

Aside from the financial factor, the lack of time—we were all in the demanding phase of college and beginning our professional lives—and the lack of experience—whether in music production or in improving our instrument skills—lengthened the record’s production process. Certainly, with the baggage we now have, the second album will take much less time to complete.

How did the foreign musicians involvement come across, in such scenario?

Hector: The first gringo participating was drummer Torstein Lofthus. We faced two big obstacles to record the drums: the pandemic and Nichollas’ academic commitments. To get around the problem, Marco contacted Torstein by e-mail, as they had met at a series of live shows by the band Elephant9, with whom Torstein plays. The shows were in Oslo, Norway, and ended up as a couple of live records called “Psychedelic Backfire”. Torstein kindly agreed to be a part of the project, and recorded his lines, based on what we had already recorded in Brazil, in a studio that is managed by Jørgen Smådal, in Oslo, called Studio Paradiso. We took the chance and left the mixing in Jørgen’s hands, since there were notable issues with that here in Brazil.

We felt the need to spice things up on certain parts, and the idea of including a saxophone was well received by everyone. Marco then emailed Benjamin Mekki, also norwegian and sax player for Seven Impale, whose City of the Sun album I’m personally a huge fan of. Benjamin also agreed to participate in the album, recorded his sax tracks in Norway and sent them to us.

To finish, we sent the material to James Plotkin, an american, that took care of mastering. It was an aesthetic likeness, as we sought professionals with experience to treat a sound like ours. Plotkin worked with bands like Sunn O))), ISIS, Pelican, Earth, Electric Wizard, and that gave us a strong certainty.

On the foreign people issue: maybe it’s me, but until very recently I could swear that most Papangu listeners wasn’t from Brazil. Is it real? There’s always the stigma of bands first getting success abroad before being recognized here, and you even got a Toby Driver remix as well…

Hector: Not sure if it’s a need for foreign validation or just because there’s a bigger proximity and conection to our music in more established gringo scenes, even if Papangu isn’t part of any specific scene. But yeah, the biggest part of the repecurssion comes from outside of Brazil, and we can verify that through the data of digital platforms. Europe and USA listen to Papangu more than Brazil, as we also have fans in Japan, which is pretty cool.

My personal opinion: people from such places comprehend our music more easily since they’d already have more references in genres like prog, avant-garde, doom metal, sludge metal. Here in Brazil, I still believe that the biggest names still are Sepultura, Angra, Krisiun, huge groups that bring scenes around them: thrash, power, death metal. So I believe the average brazilian headbanger gravitates towards them. Another curiosity is that many who enjoy Papangu in Brazil aren’t ones that live and breath metal. We’ve been getting a great reception from fans of different styles, from pop to indie, and that’s awesome.

The Toby Driver remix is a good point to connect the dots of what I just said, as maudlin of the Well and Kayo Dot have been huge inspirations for the our band. We love how Driver experimented with different genres across his discography, a huge reference to progressive and avant-garde metal, but not only, as one of his most recent projects, Alora Crucible, it’s barely considered rock music. His participation happened at the very end of the recording cycle, through a request of Marco, possibly the biggest maudlin of the Well and Kayo Dot brazilian fan. He gently agreed, and it became the bonus track “Açougue das Almas”, available only through our Bandcamp.

What are the band’s plans for the near future?

Marco: We signed with two british labels: one will release Holoceno in CD and vinyl, and the other on K7. To minimize the environmental impact, the CD will be a digipak and the LP will use recycled material. We are also envisioning the possibility of playing shows in Brazil in 2022 and maybe touring Europe – the reception has been great there and in the USA, where we have more listeners than in Brazil. And we’re writing stuff for a second concept album.

Anything else you’d like to add?

Marco: We are very happy with the repercussion, specially since it caught us by surprise! Even without the support of a local scene and no cash to promote Holoceno, word-of-mouth made a big effect, and it’s sort of surreal to see people across the world enjoying such crazy stuff sang in portuguese, as we made it on an absolute independent manner. There’s a lot of gas to keep the music running, and we’re sure the next record will benefit from all this experience.

To finish, we would like to give posthumous thanks to Anselmo Oliveira, bass player for Disacusia (excellent crust/grind band from Paraíba) and former collaborator of Pogo Pub, a now defunct house of João Pessoa’s historical center. Pogo was the first place to embrace our shows, and Anselmo gave us a lot of advice and stimulus to go forward. Holoceno is dedicated to his memory.

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